quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Capítulo VI - Mentes Diabólicas

Uma vez instalada, Laura olhou em seu redor. Tudo naquele quarto lhe parecia estranho e ao mesmo tempo acolhedor. As paredes brancas com ligeiros floreados em preto, a cama poderosamente grande, revestida de uma colcha e almofadas em tons de preto e bordeou. O ambiente era obscuro mas estranhamente quente e sedutor. Sentou-se no sofá junto á janela e olhou para fora. Havia anoitecido e a primeira coisa em que reparou foi no jardim que rodeava a casa dos Alves Antunes, se durante o dia era belo, de noite, iluminado pelas ténues luzes que o rodeavam, era supremo.

Bateram à porta , Laura saltou do banco assustada.

- Laura, posso entrar?

Reconheceu a voz de Leonor do outro lado da porta.

- Ah Prima! Claro! Entra. Exclamou.

A porta abriu-se e Leonor espreitou entusiasticamente para dentro do quarto, entrou muito rapidamente e saltou para cima da cama. Descalçou os sapatinhos dourados, colocando-os os no chão ao lado da cama e entrelaçou as pernas, tal e qual uma menina.
- Já estava mesmo farta destes sapatos, só os calcei para chatear um bocadinho a mamã.
Riu-se maldosamente, ficando de seguida subitamente séria olhando para Laura.
- Sabes priminha, já tinha saudades tuas. Depois daquele incidente... pensei que já não voltarias para esta casa. Confesso que fiquei surpreendida.

Laura baixou de imediato o olhar e sentiu-se incomodada com a conversa e com as lembranças que lhe vieram á cabeça.

- Isso faz parte do passado! Ele já não está aqui! Além disso não tinha propriamente outro sítio para onde ir.

Leonor levantou-se da cama e caminhou suavemente até a janela.
- Ai é que te enganas... O Samuel ainda aqui está! E até te digo mais... Ele está a estudar no mesmo liceu que eu e a Rosélia... e aparentemente agora também o teu liceu não é? O papá disse que te recusaste a terminar o 12º ano no Colégio. Sendo assim, parece que vamos estudar juntas... – E sorriu matreiramente.

Laura petrificou e sentiu o seu corpo estremecer.

- Não é possível! O Tio mandou-o embora! - Exclamou quase gritando.

- Não. Ele quis que tu pensasses que o tinha mandado para longe, mas não mandou. Disse isso apenas para que não levantasses dificuldades na tua ida para o colégio.
Um sorriso trocista iluminava o rosto de Leonor.

- Bem, não te incomodo mais, vou para o meu quarto fazer os trabalhos de casa. Daqui a pouco com certeza iremos jantar. Aproveita e prepara a mochila... amanha vais ter um longo dia no liceu... – exclamou com ironia.

Leonor saiu do quarto, olhando no entanto para trás antes de sair. Parecia existir algo terrivelmente maquiavélico nas suas expressões.

O resto da noite foi um pouco estranha. Durante o jantar o ambiente parecia tenso. Havia trocas de olhares fulminantes entre as duas irmãs, o senhor João Antunes comia desesperadamente, quase como se passasse fome há dias e Madame Antunes falava sozinha de rugas e cremes. Antes de se deitar, já no seu quarto. Laura
No dia seguinte, Laura, Leonor e Rosélia entraram no colégio. Os grupos de estudantes paravam a olhar enquanto passavam. Mas as suas atenções já não eram para Leonor, mas sim para Laura. Os rapazes pareciam enfeitiçados perante a sua beleza estonteante, as raparigas roídas de inveja olhavam-na de alto a baixo. Os seus longos cabelos negros deslizavam ao vento e o uniforme assentava perfeitamente nas curvas esbeltas do corpo de Laura parecendo embelezar ainda mais cada contorno. Leonor, ao ver tudo aquilo, ficou furiosa. O que raio é que viam na sua prima? Era tão feia comparada a ela. Tinha que arranjar maneira de mudar isso rapidamente. Rosélia pensava para si, " Deus nos valha, ela é uma pecadora! Transpira obscenidades, provoca efeitos demoníacos nos moços. Filha do Diabo! Tenho que a salvar das trevas que a rodeiam!"Entraram no pavilhão, e prestes a separarem-se para as respectivas aulas, Leonor diz "Não esperem por mim depois das aulas." E segue o seu caminho.

Laura e Rosália estranham, mas continuam o seu caminho e esta agarra no braço de Laura e coloca-se á sua frente.

- Prima! Não vou comer durante uma semana e vou rezar todos os dias 5 Ave Marias e 3 Pais-nossos para que Deus Nosso Senhor te salve. Exclama com olhar de pena e vai-se embora sorrindo.

Laura fica sem palavras e chocada, " Deve ser maluca... Só pode..." pensa para si.
Já na sua aula, Laura senta-se e apresenta-se á turma. Sem tomar atenção, só consegue pensar onde estará Samuel. Procurou-o em todo o liceu e não o viu.

A porta da sala abre-se de rompante e um rapaz alto e esbelto entra. Laura deixa cair o caderno no chão. " Oh Deus... Samuel..." O rapaz parece não reparar em Laura, segue o seu caminho e senta-se numa cadeira ao fundo da sala.

Não posso acreditar que ele não me conheça, como é que é possível depois do que vivemos.

Depois da aula... vou colocar-me a sua frente de propósito... Quero ver se mesmo assim não me reconhece...

Acabada a aula, Laura tenta arrumar os pertences dentro da mochila o mais rápido possível para conseguir apanhar Samuel. Mas não consegue. Samuel tinha desaparecido.
Mas que raio! Ia jurar que ele não tinha tido tempo de sair da aula, que estranho. Bem terei que tentar amanha novamente.

Nessa noite, Laura sentada junto á janela, escrevia no seu diário. Hoje quando viu Samuel, subiu-lhe uma sensação de desejo á cabeça, algo tão forte como aquilo que lhe tinha acontecido antes, talvez mais... havia algo que enfeitiçava, naquele rapaz. Mas ele parecia já não reparar nela. Uma tristeza súbita tomou conta de Laura. Apetecia-lhe chorar. Samuel não reparava nela. A família Alves Antunes, tinha algo de sinistro, principalmente a sua prima Leonor, parecia haver maldade dentro dela, raiva, algo que Laura não conseguia entender.

Olhou para o jardim para contemplar a vista. Mas havia algo no fundo do jardim... uma sombra... algo que não fazia parte... era uma figura... uma pessoa... olhava directamente para a sua janela... mas estava tão escuro que não conseguia perceber quem era... subitamente a figura sumiu-se por entre as sombras da noite... desapareceu... Laura sentiu um arrepio e gelou.

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